segunda-feira, 28 de junho de 2010

Dominados

“Fome? Pobreza? Isso não me interessa. O que me interessa são revistas importantes, TV com 500 canais, marcas famosas nas minhas cuecas.”

Parei pra pensar um pouco sobre a história da humanidade.
A maior parte das informações que chega até nós retratam intrigas, guerras e todo um arranca rabo em busca da liberdade. Desde os primórdios, as pessoas sempre lutaram e deram o sangue, quando não a vida, pelo direito de não servir a outro homem.
Ao longo dos séculos, o pau quebrou em todo lugar. E o ideal sempre foi o mesmo.
Liberdade!
Então eu me pergunto: depois de tanta luta, como a humanidade chegou ao que é hoje?
Com um espírito tão forte de conquista da liberdade, como permite isso?
Alguém entra em sua casa e lhe dá a seguinte ordem:
“Você ficará aí sentado olhando para mim! Apenas sairá pra prover seu sustento, mas todo seu tempo livre ficará aí sentado me admirando, olhando fixamente para mim! E, mesmo longe de mim, eu serei seu principal assunto, não ouse falar de outra coisa senão sobre mim!”
Qual a sua reação? Levantar-se e expulsar tal insolente por tamanho atrevimento?
Não!
Você se cala e obedece. Todos os dias.
É isso que você tem feito. Todos os dias você volta do trabalho, senta-se no sofá e cumpre a ordem.
Você não contraia isso jamais. Já não pode viver sem ela.
A Televisão.

Esse é o novo Evangelho. Tudo o que passa lá é tomado como a mais pura verdade. Jamais questionada, a televisão tornou-se a mais procurada fonte de informações do mundo. Livros, jornais e até mesmo a internet perde força diante da incontestável TV.
Livros e jornais são tidos como ultrapassados. Pois são trabalhosos, tomam um tempo maior para um aproveitamento ideal.
Já a internet é sempre tida como fonte duvidosa, além de requerer um trabalho de busca.
A televisão ganha a preferência, pois você só precisa sentar sua bunda preguiçosa no sofá e deixar que ela lhe mostre tudo. Ela irá saciar sua sede de conhecimento. Tudo o que você saber está ali.

NADA DO QUE VOCÊ PRECISA SABER ESTÁ ALI!!!!

A televisão é um poço de ilusões.
Nada lá é real. Estão tirando sua atenção das coisas que estão acontecendo. Estão te dominando cada vez mais.
Lhe dizem como vestir-se, o que comer, onde morar, como se comportar.
Educam seus filhos, ensinando-lhes todo tipo de porcaria.
Você não quer pensar em política, não quer pensar nas leis que regem o seu país, não quer pensar em pessoas famintas, em guerras e vidas se perdendo. Pois você não pode perder o próximo capítulo da novela.
Não interessa o domínio de homens sobre homens, pois você quer saber o que acontecerá no reallity show da vez.
Não importa o que aconteça no mundo desde que você possa ver todo o circo armado pela TV.
Você assiste no telejornal a quantidade de assaltos e homicídios que houveram numa determinada região e se diz bem informado. Claro, pois você sabe exatamente quantas pessoas morreram na enchente que aconteceu do outro lado do mundo, e sabe também quantos civis morreram nos bombardeios sobre o Oriente Médio.
O que você fez com essas informações?
Qual foi sua atitude para ajudar todas essas vítimas de tamanha desgraça mundial?
Nada.
Pra você isso tudo não passa de mais um filminho de terror.
Você lamenta os assaltos e homicídios, mas não pensa na causa disso.
Você lamenta a guerra, mas não idéia dos motivos que levaram a ela.
Você tem um opinião formada sobre tudo, mas não faz a mínima ideia do que fala, pois essa opinião não é sua, a televisão que te deu.


A televisão é sua verdade absoluta. E você jamais vai contestá-la.
Você abdicou da sua vida pra ouvir ilusões, mentiras, verdades manipuladas e qualquer bobagem que queiram te enfiar cabeça adentro.
Você não é livre.
Você perde o mundo lá fora, perde o universo acontecendo, perde muito mais do que pode imaginar, para render-se ao circo televisivo.
Meus parabéns! Seu grande idiota!

domingo, 27 de junho de 2010

Eu sei.


Acho que nós sempre fomos mais amigos que amantes.

Sinto uma certa estranheza ao lembrar daquela noite. Tudo aconteceu espantosamente da forma mais fácil, cada palavra ou gestos estava milimetricamente no lugar. Tempo ritmado. Sem obstáculos.

Sim, a idéia partiu de mim. Você não estava bem, já não falava comigo, nem sorria e até o riso que eu sempre facilmente lhe arrancava, sumiu.

Corri até sua casa e lhe questionei. Eu precisava começar uma conversa que eu já sabia como terminaria.

Segundo suas próprias palavras, você só estava estranha. Mas para mim não importava o que você falasse naquele momento, eu estava lá por um motivo, eu tinha um objetivo naquela conversa.

Te disse que queria resolver tudo naquela noite. Você me pediu um tempo, e eu não dei.

Eu já conhecia essa história de tempo e tal. Te pressionei a falar. E você falou.

“Daqui pra frente nós somos só amigos.”

Um abraço apertado e eu andando só na rua de novo, com o sentimento de que as coisas estão como devem estar.

Eu sei que nessa noite eu fiz uma coisa boa.

Eu sei o motivo para você estar estranha. Eu sei o que te levou a afastar-se de mim dessa maneira.

E sei, também, o porque você nunca mais tocou no assunto, dando a impressão de que nada aconteceu.

Provavelmente você já esqueceu de tudo, considerando que já passaram-se anos desde aquela noite. Provavelmente você sequer pense a respeito, e não faça a menor idéia de que eu escrevo estas linhas. Não posso imaginar sua reação se um dia as ler.

Há quem diga que devemos compartilhar o que sentimos, nossas emoções, nossos problemas, mas não é bem assim.

Você não precisava passar por tudo aquilo, não precisava aguentar uma cruz que não é sua. Você precisava de tranquilidade.

Uma segurança que eu não lhe podia oferecer. Eu estava com problemas, e já fazia bastante tempo. Eu não podia dizer quando estariam resolvidos, eu não sabia.

Constrangimentos, dor, lágrimas. Eu levantava no meio da noite e você sabia que eu não estava bem. Tudo fora do normal, de maneira ruim e triste. Meus problemas.

Como você se meteu nisso?

Você queria sair, mas não sabia como fazer isso, não sabia como me dizer que você queria voltar pra sua vida, sem surpresas, sem angústia. Não sabia me dizer o quanto você queria sua tranquilidade de volta. Então você se fechou. Na sua introspecção, imaginava meios, palavras, motivos que parecessem razoáveis, não achava, você estava infeliz.

Eu sei.

Você não precisava suportar essa dor, não precisava passar por tudo isso.

Mas eu precisava. Então eu fui até sua casa. Sabendo que isso iria me doer por muito tempo, mas fui. Falei-lhe, e tudo saiu como eu esperava....doeu....só não desabei por ver tanto alívio no seu olhar. Você estava livre. O seu abraço foi leve e descansado.

Fiz o que era certo.

Você não precisava passar por tudo aquilo.

Mas eu precisava. E passei.

Com você fora de cena eu enfrentei tudo aquilo que me afligia. Suportei toda a dor. Todo o sofrimento. E venci.

Sempre houveram motivos obscuros por trás das desculpas que inventamos para o que aconteceu com a gente. Ainda hoje você crê que tudo passou de forma tranquila e o mundo simplesmente girou e colocou as coisas no lugar.

Você não sabe que eu sei, mas eu sei.