quarta-feira, 25 de abril de 2012

Sufocando


Eu a vi.
Enquanto fumava em seu jardim, questionava seus próprios pensamentos, seus próprios sentimentos e tudo o que estava acontecendo entre nós.
Eu não pude dar-lhe uma resposta. Como poderia?
Talvez não seja adequado estar tão perto de alguém como eu, afinal, quem gosta de problemas?
Provavelmente eu não seja como ela sonhou um dia e sinto muito por isso.
Sinto-me tão perdido.
Perco meu tempo imaginando maneiras de alterar alguns acontecimentos passados.
Por que eu preciso tanto buscar respostas? Por que não consigo simplesmente aceitar o que está sendo esfregado na minha cara? Por que ainda tenho esperança?
Eu preciso dormir.
Como diz a música do Damien Rice “Estou sozinho novamente, rastejando de volta pra casa novamente, empacado ao lado do telefone novamente”. Tentei ouvir outras bandas, mas não consegui. Nem o violão do Bob Dylan prendeu minha atenção. As palavras saem da boca do Damiem como se ele as lesse nos meus olhos.
Ah, meus olhos. Por causa deles sou incapaz de esconder o quanto estou mal. Todos com quem encontro perguntam-me o que houve. Limito-me a falar sobre os sintomas. Não dormi bem, não comi, estou cansado ou tenho algo a resolver. A última coisa que quero é a intromissão de pessoas indevidas.
Essa hora que não passa.
Como sinto a falta dela. E de como ela passava a mão por trás da minha cabeça enquanto eu dirigia. De como ela repousava a cabeça no meu ombro enquanto seu rosto encostava o meu pescoço e eu podia fazer o mesmo. Abraçar sua perna e deitar a cabeça em seu colo. Sinto falta da sua voz falando ‘amor’ prolongando a pronúncia do O. Da sua risada enquanto eu contava uma besteira qualquer e das frases dignas de serem colocadas numa camiseta. Sinto falta…muita falta….
Preciso comer alguma coisa.
Gostaria tanto de conversar e que ela me dissesse tudo o que realmente sente, mesmo que isso acabasse comigo. Ao menos eu poderia chorar. Me faria bem, mas as lágrimas recusam-se a sair e sinto-me sufocado por tudo isso dentro de mim sem conseguir expulsar nenhuma gota dessa tristeza. As vezes acho que é isso que me matará um dia, guardar tudo dentro de mim. Queria ouvir sua voz e sentir que talvez ela precisa um pouquinho de mim, pois eu preciso do amor dela.
Eu preciso parar de me iludir, mas essa esperança recusa-se a me deixar.

sábado, 7 de abril de 2012

Andando sem destino


Hora de levantar.
Não importa que horas são, ele apenas sabe que precisa sair dali. Sente-se um pouco doente, mas, como de costume, não vai alertar ninguém sobre isso. Ele precisa sair. Precisa sentir a estrada embaixo dos seus pés.
Apesar de amar seu trabalho, ele sabe que não pode ultrapassar os limites de envolvimento nele. É exatamente por esse amor ao que faz que vai dar um tempo longe dali. Sem ouvir qualquer coisa sobre seus alunos ou envolver-se em qualquer discussão sobre os rumos da Educação. Claro que não será fácil. Todos os professores sabem o quão é difícil não pensar sobre trabalho. Mas ele irá ao menos tentar.
Longe de casa e com uma máquina fotográfica na mão, talvez o tomem por fotógrafo.
Sua mochila está pronta.
Ele aprontou-a há semanas enquanto decidia se iria partir ou para onde. Nesse momento ele decidiu. Não faz a mínima ideia de qual rumo seguir, mas irá sair e seguir para longe. Para um lugar onde ele possa ser ele mesmo o tempo todo, onde ele estará livre das caras de aprovação e covardia das pessoas do seu convívio. 
A direção é o de menos, essa decisão pode ser tomada já na rua.
Apenas uma coisa importa: Partir.
Outras coisas das quais esse homem quer fugir quando põe o pé na estrada são suas próprias esperanças e ilusões. Quando desse mesmo quarto de onde prepara-se para partir, ele direciona seus pensamentos e sorri a alguém que, no mesmo instante, faz o mesmo por outra pessoa, sua mente padece e reflete em seu corpo. Não raras sãos as vezes em que passou mal fisicamente por conta dessa tristeza avassaladora que o domina ao constatar o quão ingênuo ainda é por acreditar em alguns instantes que enfim sua vida mudou e que os bons sentimentos podem durar um pouco mais. Quando na realidade tudo é apenas uma construção poética de sua mente esperançosa, tudo começa e termina nesse mesmo quarto.
A vontade de ir embora é cada vez mais aparente.
Ele esforça-se para dissimulá-la diante dos seus amigos, pessoas que ele ama, mas duvida da reciprocidade de alguns.
Pergunta a si mesmo se deveria contar a todos o que pretende fazer, mesmo sabendo que irá ouvir censuras e alguns pedidos para desistir, se deveria avisar as pessoas que ela nunca mais terão a presença dele, ou se, como nas outras vezes, apenas dizer que irá viajar e que volta logo, mas, dessa vez, levar a decisão até o fim e não retornar.
Isolar-se do mundo no mundo, entre as pessoas, torcendo para não ser reconhecido em parte alguma.
Ele não está fugindo dos problemas, está fugindo do que esse convívio em sociedade o faz pensar e sentir. Ele pode conviver com a dor, mas está cansado de sentir-se acolhido e rejeitado ao mesmo tempo. Está farto de jogos sentimentais onde só ele parece empenhar-se em fazer o outro sentir-se bem, sentir-se feliz.
Todas as noites ele pergunta a si mesmo “quando será a minha vez?
E quem pode culpá-lo?
O que faríamos no lugar dele?
Ele sabe que não é a escolha. Ele sabe que cultiva esperanças ao mesmo tempo que são nutridas outras esperanças que o farão sofrer. Sabe que ao pensar em alguém, esse alguém pensa da mesma forma em outra pessoa. Ele não é a escolha. Ele não sabe o que é.
Atitudes e palavras se confundem e desorganizam pensamentos.
Enquanto caminha de um lado para o outro do quarto, tentando calcular o tamanho de sua desgraça, deixa de pensar em si mesmo e pensa nas investidas e retomadas de diálogos que, se dessem certo, fariam com que ele fosse rejeitado de vez por quem ama.
Mas o que o intriga mesmo e perguntar-se de que maneira isso iria acontecer, se de repente tal investida fosse correspondida, o que diriam a ele?