sábado, 7 de abril de 2012

Andando sem destino


Hora de levantar.
Não importa que horas são, ele apenas sabe que precisa sair dali. Sente-se um pouco doente, mas, como de costume, não vai alertar ninguém sobre isso. Ele precisa sair. Precisa sentir a estrada embaixo dos seus pés.
Apesar de amar seu trabalho, ele sabe que não pode ultrapassar os limites de envolvimento nele. É exatamente por esse amor ao que faz que vai dar um tempo longe dali. Sem ouvir qualquer coisa sobre seus alunos ou envolver-se em qualquer discussão sobre os rumos da Educação. Claro que não será fácil. Todos os professores sabem o quão é difícil não pensar sobre trabalho. Mas ele irá ao menos tentar.
Longe de casa e com uma máquina fotográfica na mão, talvez o tomem por fotógrafo.
Sua mochila está pronta.
Ele aprontou-a há semanas enquanto decidia se iria partir ou para onde. Nesse momento ele decidiu. Não faz a mínima ideia de qual rumo seguir, mas irá sair e seguir para longe. Para um lugar onde ele possa ser ele mesmo o tempo todo, onde ele estará livre das caras de aprovação e covardia das pessoas do seu convívio. 
A direção é o de menos, essa decisão pode ser tomada já na rua.
Apenas uma coisa importa: Partir.
Outras coisas das quais esse homem quer fugir quando põe o pé na estrada são suas próprias esperanças e ilusões. Quando desse mesmo quarto de onde prepara-se para partir, ele direciona seus pensamentos e sorri a alguém que, no mesmo instante, faz o mesmo por outra pessoa, sua mente padece e reflete em seu corpo. Não raras sãos as vezes em que passou mal fisicamente por conta dessa tristeza avassaladora que o domina ao constatar o quão ingênuo ainda é por acreditar em alguns instantes que enfim sua vida mudou e que os bons sentimentos podem durar um pouco mais. Quando na realidade tudo é apenas uma construção poética de sua mente esperançosa, tudo começa e termina nesse mesmo quarto.
A vontade de ir embora é cada vez mais aparente.
Ele esforça-se para dissimulá-la diante dos seus amigos, pessoas que ele ama, mas duvida da reciprocidade de alguns.
Pergunta a si mesmo se deveria contar a todos o que pretende fazer, mesmo sabendo que irá ouvir censuras e alguns pedidos para desistir, se deveria avisar as pessoas que ela nunca mais terão a presença dele, ou se, como nas outras vezes, apenas dizer que irá viajar e que volta logo, mas, dessa vez, levar a decisão até o fim e não retornar.
Isolar-se do mundo no mundo, entre as pessoas, torcendo para não ser reconhecido em parte alguma.
Ele não está fugindo dos problemas, está fugindo do que esse convívio em sociedade o faz pensar e sentir. Ele pode conviver com a dor, mas está cansado de sentir-se acolhido e rejeitado ao mesmo tempo. Está farto de jogos sentimentais onde só ele parece empenhar-se em fazer o outro sentir-se bem, sentir-se feliz.
Todas as noites ele pergunta a si mesmo “quando será a minha vez?
E quem pode culpá-lo?
O que faríamos no lugar dele?
Ele sabe que não é a escolha. Ele sabe que cultiva esperanças ao mesmo tempo que são nutridas outras esperanças que o farão sofrer. Sabe que ao pensar em alguém, esse alguém pensa da mesma forma em outra pessoa. Ele não é a escolha. Ele não sabe o que é.
Atitudes e palavras se confundem e desorganizam pensamentos.
Enquanto caminha de um lado para o outro do quarto, tentando calcular o tamanho de sua desgraça, deixa de pensar em si mesmo e pensa nas investidas e retomadas de diálogos que, se dessem certo, fariam com que ele fosse rejeitado de vez por quem ama.
Mas o que o intriga mesmo e perguntar-se de que maneira isso iria acontecer, se de repente tal investida fosse correspondida, o que diriam a ele?

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