quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Quando todas as tavernas fecham e a última prostituta te rejeita, só então você me procura...

domingo, 16 de setembro de 2012

Eu?



Eu posso ouvir você. Aí, me espreitando de longe. Sussurrando perguntas:
“Por que foi pra tão longe?”
“Por que me trocou?”
“Por que me traiu?”
Então eu traí você? Eu traí você?
Vinte e cinco anos atolado até o pescoço na merda. Eu cuidei de você. Eu fiz por você, o que você não podia fazer. Eu suportei o seu fardo. Eu digo quem, eu digo  quando, eu digo onde. Eu assumo toda a responsabilidade. Eu enfrento o que você não tem coragem e te deixo livre para representar esse papel idiota de “ser independente”, coisa que você não é.
E o que você faz? O que você fez?
Então…eu traí você?

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Diálogo


Chegando ao Parque da Cidade, ele senta-se na grama. Continuo de pé olhando fixamente na cara dele.

Eu: Por que você me trouxe aqui?
Ele: Você não pode ficar trancado no quarto o resto da sua vida.
Eu: Não é para o resto da vida, é só por que estou em férias.
Ele: E quer passar trinta dias trancado lá? Você é deprimente.
Eu: Obrigado pelo compreensão.
Ele: Senta aí, cara. Vamos conversar, sei lá, não te vejo faz tempo.

Me sento ao lado dele e olho para o reflexo do Sol na represa.

Ele: E aí, o que tem feito?
Eu: O de sempre. Estudo, violão, livros, internet...
Ele: Ainda visita as páginas dela?
Eu: Dela quem?
Ele comprime os lábios e me olha como se dissesse "Cínico!".
Eu: Tá bom, de vez em quando eu dou uma olhada.
Ele: De vez em quando?
Eu: Ok! Todos os dias.
Ele: Pra que, cara? Você sabe que isso só te faz mal. Você mesmo me disse que não ía rolar mais.
Eu: Eu sei. Não tenho pretensão de voltar, mas...sabe...ainda sinto um carinho por ela. Algo como um desejo de que nada de mal aconteça a ela. Proteção, manja? Como se fosse meu dever.
Ele: Mas foi ela deu mancada, meu. Não foi ela quem parou de falar com você?
Eu: Foi, mas...eu não sei...me sinto meio bobo. E quando penso muito nisso, me sinto um idiota.
Ele: Você sabe o que eu penso.
Eu: Claro, você não pára de repetir essa merda.
Ele: Você é quem sabe.
Eu: Sei de porra nenhuma. Só sei que vou voltar.
Ele: Voltar com ela?
Eu: Não, voltar pro meu quarto.
Ele: Puts! Vamos passar no bar antes. A gente enche a cara, depois você volta pro isolamento.

Me levanto e tiro meu cantil do bolso. Está pela metade. Dou um gole e começo a andar. Ele vem atrás de mim.

Ele: Cantil legal, cara.
Eu: Adivinha quem me deu!

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Cansado, um tanto perdido...mas eu resolvo.


Abro os olhos pela manhã, me levanto, escovo os dentes, passo pelo espelho sem fazer menção alguma de olhar meu reflexo. Volto para cama e deita-me olhando para o teto. Paro um instante para refletir sobre o que tem acontecido em minha vida. Coisas boas, coisas ruins...
Não tenho certeza se no final o saldo é negativo ou positivo.
O que mais me incomoda é a atitude das pessoas que deveriam estar ao meu lado, mas não consigo lembrar da última vez em que ouvi algo de bom ou uma palavra de apoio dessas pessoas. 
"Preciso sair daqui" é a frase que mais aparece em meus pensamentos.
Estou cansado de tudo... cansado dessa casa e sempre ser ignorado ou esculachado por essa família...cansado de pessoas que dizem que gostam de mim apenas por dizer...cansado de frequentar hospitais...cansado das seqüelas que as cirurgias me deixaram. Cansado de chorar, cansado de me sentir doente, cansado de estar cansado, cansado de me sentir sozinho em tudo, cansado desse mundo, cansado dessa vida
E eu não posso deixar transparecer essas coisas. Todo mundo recrimina, todo mundo se afasta ainda mais, como se a culpa fosse minha. A cada dia estou constatando isso mais e mais, estou com isso aqui dentro há tanto tempo.
Estou cansado de tentar conversar com alguém e simplesmente me disserem que eu tenho que deixar isso pra lá, que sou forte, especial, isso e aquilo, que é tudo papo furado de quem não quer te ouvir na realidade
Como as pessoas podem agir assim? Eu me sinto um ET, pois jamais conseguiria ser assim. As pessoas mentem tanto, simulam tanto, disfarçam tanto, roubam, falseiam, apunhalam, te procuram quando precisam e depois te ignoram. Meu irmão mais velho se acidentou de moto, não falava comigo havia meses, ligou primeiro pra mim, queria que eu fosse buscar a moto dele na policia rodoviária. Há dois dias ele veio buscar a moto e nem olhou na minha cara. Meu pai me ignora desde que meus irmãos mais novos vieram morar aqui e já ouvi da boca dele que se arrepende de ter tido os filhos do primeiro casamento. Ele só me dá atenção quando estou numa cama de hospital, e mesmo assim fica dizendo que estou dando trabalho. Não consigo ficar perto disso muito tempo, então me afasto. Procuro alguém que ainda possa ter esperança de que não seja assim e me aproximo até que esse alguém comece a agir dessa forma... então me afasto de novo e recomeço. Sinto-me órfão, totalmente sem família.
Definitivamente a vida é algo cruel.
E não estou falando sobre a violência no mundo, sobre guerras ou injustiças sociais.
Estou falando daquilo que é possível fazer com algo bom.
Como é possível?
É difícil acreditar, mas acontece.
Machucar alguém com amor.
Há tanta coisa que não entendo. 
Por que ainda me quer por perto?
Por que não rejeita minhas investidas?
Por que aceita meus sentimentos?
O que irá fazer se acaso as coisas que pensa e escreve tornarem-se reais?
E quanto a mim? O que irá fazer comigo?
O que irá fazer com o que sente em relação a mim?
O que irá fazer com o que sinto?
Sinto-me tão mal. Tão inútil, substituível...
Há jogos que não sei jogar...talvez a vida seja um deles.
Não é em qualquer jogo que ser titular é bom. Há jogos em que é legal estar na reserva. Mas o ideal em certos jogos é ser ÚNICO. Ou é você ou o jogo acabou. Você sente que o jogo é realmente seu.
Sentir a responsabilidade de acertar cada lance, e arcar com as consequências a cada erro.
Perdas, ganhos, mérito, culpa.
Tudo com um pouco de você.
Sabendo que essa poderá ser sua única chance, você dá seu melhor, pois não há ninguém na reserva. Ninguém vai te substituir.
Dando o seu melhor dentro do seu jogo ideal.
Mas ... sinceramente ... eu só queria poder não jogar.
Uma frase ecoa na minha cabeça. Uma frase curta e simples. Dita em um momento de tensão, mas dita com firmeza. Talvez dita sem pensar, mas isso só me leva a crer que essa idéia já existia e, nesse momento, apenas foi verbalizada.
Foi como o disparo de um relógio. Começou a contagem regressiva. Agora é só questão de tempo até acontecer.
Agora não sei o que fazer. Na minha mente a opções apresentam-se claramente. Cada rumo a tomar. Mas eu não lido muito bem com opções.
Estou confuso por ver algo que me entristece assim tão próximo e minha ignorância sobre o que está acontecendo. Sei exatamente o que fazer para saber, mas estou receoso. As vezes tento me convencer de que não é nada do que estou pensando e que tudo vai se encaixar alguma hora.
Talvez eu devesse acabar com tudo isso de uma vez. Mas não posso.
Minhas cabeça tá zunindo. 
A tomada de decisões sempre me faz bambear um pouco. E nesses dias não tem sido diferente. Afinal, é meu futuro que está sendo decidido. Um turbilhão de pensamentos invade minha mente. Penso em recuar, voltar atrás. Refaço o caminho. Tento imaginar todas as possibilidades. E penso se não foi um erro, se não me precipitei. 
Tenho lido bastante, ouvido muita música, voltei a tocar violão e estou me programando para viajar de novo.
Com certeza a estrada me fará bem.
Aos poucos vou colocando as coisas no lugar, (ao menos o que posso colocar).
Não sei o que vai acontecer comigo. Se terei que retroceder e voltar a fazer o que não quero.
Já tenho algumas boas notícias e torço para que permaneçam boas.
Tenho visto coisas que pensei que não iriam acontecer também. É sempre uma surpresa constatar que não se sabe quase nada sobre algumas pessoas. Mas ainda prefiro pensar que só tenho visto por que querem que eu veja, ou seja, proposital. O que posso fazer?
Não sei o que se passa na cabeça das pessoas ao meu redor. Sabe aquele sentimento de criança que te fazia pensar que todos ao seu redor escondiam um segredo de você, te observavam escondido, mas quando você olhava todos já tinham voltado a fingir que estavam fazendo outras coisas, todos sabiam "a verdade" menos você e esperavam você descobrir tudo sozinho. Nada é o que parece. As vezes ainda me pego pensando nisso. E começo a rir de mim mesmo.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Nada como...


Nada como você olhar para si mesmo e perceber uma evidente recuperação quando, até pouco tempo, não podia sequer olhar no espelho sem sentir ódio e profunda tristeza. 
Nada como ver as coisas encaixando-se perfeitamente e saber que é o único responsável por isso e pode gozar de todo o mérito sozinho. 
Nada como estar de pé depois de ser derrubado e rastejado sozinho apenas pensando o quão injustos são esses acontecimentos.
Nada como respirar tranquilamente e sentir o ritmo tranquilo do próprio coração.
Nada como sentir-se bem.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Tudo bem

“Aos poucos as coisas vão retomando lugar, ganhando importância. Planos solitários e felizes. Velhos conhecidos reaparecem (ou será que eu reapareci?). O violão voltou a me acompanhar e já estou atualizando meu site de fotografia. Meu violão, minha câmera, meus livros, meus pés na rua. Típicas atividades solitárias, mas que já colocam um leve sorriso no canto da minha boca.

Uma pessoa muito amada disse que vem me ver. Ela nem imagina o quanto eu preciso dela aqui. Uma coincidência adorável.
“Se cuida” - Foi o que me disse num dos últimos encontros. Acho que preciso mesmo.
Bom, eu sempre me cuidei, agora não será diferente. Fazer as coisas por mim mesmo, pois ninguém mais fará. É a história da minha vida.
Repito as palavras de Diógenes de Sínope quando lhe venderam como escravo:
“Não está mal.”
Então quando alguém me perguntar como estou, direi “Está tudo bem.”, não importa como eu esteja, afinal, apenas eu posso me ajudar. Então…”

Miguel Gonzales

segunda-feira, 7 de maio de 2012

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Sufocando


Eu a vi.
Enquanto fumava em seu jardim, questionava seus próprios pensamentos, seus próprios sentimentos e tudo o que estava acontecendo entre nós.
Eu não pude dar-lhe uma resposta. Como poderia?
Talvez não seja adequado estar tão perto de alguém como eu, afinal, quem gosta de problemas?
Provavelmente eu não seja como ela sonhou um dia e sinto muito por isso.
Sinto-me tão perdido.
Perco meu tempo imaginando maneiras de alterar alguns acontecimentos passados.
Por que eu preciso tanto buscar respostas? Por que não consigo simplesmente aceitar o que está sendo esfregado na minha cara? Por que ainda tenho esperança?
Eu preciso dormir.
Como diz a música do Damien Rice “Estou sozinho novamente, rastejando de volta pra casa novamente, empacado ao lado do telefone novamente”. Tentei ouvir outras bandas, mas não consegui. Nem o violão do Bob Dylan prendeu minha atenção. As palavras saem da boca do Damiem como se ele as lesse nos meus olhos.
Ah, meus olhos. Por causa deles sou incapaz de esconder o quanto estou mal. Todos com quem encontro perguntam-me o que houve. Limito-me a falar sobre os sintomas. Não dormi bem, não comi, estou cansado ou tenho algo a resolver. A última coisa que quero é a intromissão de pessoas indevidas.
Essa hora que não passa.
Como sinto a falta dela. E de como ela passava a mão por trás da minha cabeça enquanto eu dirigia. De como ela repousava a cabeça no meu ombro enquanto seu rosto encostava o meu pescoço e eu podia fazer o mesmo. Abraçar sua perna e deitar a cabeça em seu colo. Sinto falta da sua voz falando ‘amor’ prolongando a pronúncia do O. Da sua risada enquanto eu contava uma besteira qualquer e das frases dignas de serem colocadas numa camiseta. Sinto falta…muita falta….
Preciso comer alguma coisa.
Gostaria tanto de conversar e que ela me dissesse tudo o que realmente sente, mesmo que isso acabasse comigo. Ao menos eu poderia chorar. Me faria bem, mas as lágrimas recusam-se a sair e sinto-me sufocado por tudo isso dentro de mim sem conseguir expulsar nenhuma gota dessa tristeza. As vezes acho que é isso que me matará um dia, guardar tudo dentro de mim. Queria ouvir sua voz e sentir que talvez ela precisa um pouquinho de mim, pois eu preciso do amor dela.
Eu preciso parar de me iludir, mas essa esperança recusa-se a me deixar.

sábado, 7 de abril de 2012

Andando sem destino


Hora de levantar.
Não importa que horas são, ele apenas sabe que precisa sair dali. Sente-se um pouco doente, mas, como de costume, não vai alertar ninguém sobre isso. Ele precisa sair. Precisa sentir a estrada embaixo dos seus pés.
Apesar de amar seu trabalho, ele sabe que não pode ultrapassar os limites de envolvimento nele. É exatamente por esse amor ao que faz que vai dar um tempo longe dali. Sem ouvir qualquer coisa sobre seus alunos ou envolver-se em qualquer discussão sobre os rumos da Educação. Claro que não será fácil. Todos os professores sabem o quão é difícil não pensar sobre trabalho. Mas ele irá ao menos tentar.
Longe de casa e com uma máquina fotográfica na mão, talvez o tomem por fotógrafo.
Sua mochila está pronta.
Ele aprontou-a há semanas enquanto decidia se iria partir ou para onde. Nesse momento ele decidiu. Não faz a mínima ideia de qual rumo seguir, mas irá sair e seguir para longe. Para um lugar onde ele possa ser ele mesmo o tempo todo, onde ele estará livre das caras de aprovação e covardia das pessoas do seu convívio. 
A direção é o de menos, essa decisão pode ser tomada já na rua.
Apenas uma coisa importa: Partir.
Outras coisas das quais esse homem quer fugir quando põe o pé na estrada são suas próprias esperanças e ilusões. Quando desse mesmo quarto de onde prepara-se para partir, ele direciona seus pensamentos e sorri a alguém que, no mesmo instante, faz o mesmo por outra pessoa, sua mente padece e reflete em seu corpo. Não raras sãos as vezes em que passou mal fisicamente por conta dessa tristeza avassaladora que o domina ao constatar o quão ingênuo ainda é por acreditar em alguns instantes que enfim sua vida mudou e que os bons sentimentos podem durar um pouco mais. Quando na realidade tudo é apenas uma construção poética de sua mente esperançosa, tudo começa e termina nesse mesmo quarto.
A vontade de ir embora é cada vez mais aparente.
Ele esforça-se para dissimulá-la diante dos seus amigos, pessoas que ele ama, mas duvida da reciprocidade de alguns.
Pergunta a si mesmo se deveria contar a todos o que pretende fazer, mesmo sabendo que irá ouvir censuras e alguns pedidos para desistir, se deveria avisar as pessoas que ela nunca mais terão a presença dele, ou se, como nas outras vezes, apenas dizer que irá viajar e que volta logo, mas, dessa vez, levar a decisão até o fim e não retornar.
Isolar-se do mundo no mundo, entre as pessoas, torcendo para não ser reconhecido em parte alguma.
Ele não está fugindo dos problemas, está fugindo do que esse convívio em sociedade o faz pensar e sentir. Ele pode conviver com a dor, mas está cansado de sentir-se acolhido e rejeitado ao mesmo tempo. Está farto de jogos sentimentais onde só ele parece empenhar-se em fazer o outro sentir-se bem, sentir-se feliz.
Todas as noites ele pergunta a si mesmo “quando será a minha vez?
E quem pode culpá-lo?
O que faríamos no lugar dele?
Ele sabe que não é a escolha. Ele sabe que cultiva esperanças ao mesmo tempo que são nutridas outras esperanças que o farão sofrer. Sabe que ao pensar em alguém, esse alguém pensa da mesma forma em outra pessoa. Ele não é a escolha. Ele não sabe o que é.
Atitudes e palavras se confundem e desorganizam pensamentos.
Enquanto caminha de um lado para o outro do quarto, tentando calcular o tamanho de sua desgraça, deixa de pensar em si mesmo e pensa nas investidas e retomadas de diálogos que, se dessem certo, fariam com que ele fosse rejeitado de vez por quem ama.
Mas o que o intriga mesmo e perguntar-se de que maneira isso iria acontecer, se de repente tal investida fosse correspondida, o que diriam a ele?

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Deformado

Eu não culpo ninguém por isso. São fatalidades, acontecem o tempo todo com todo mundo. Cada um de nós tem aquele ponto de fragilidade. Aquilo que você não fala o que é nem para aquela pessoa que você sente poder contar qualquer coisa.
Eu sei que não sou o único, mas isso não diminue minha tristeza. Não sinto-me especial por isso.
Isso não faz-me mais bonito tampouco o mais feio. Apenas resgata-me quando sequestrado pela alegria e joga-me contra essa velha parede que construi-se na minha vida ao longo dos anos, sem que eu poudesse fazer qualquer coisa para impedir.
Eu tomei as rédeas da minha vida, resolvi fazer meu próprio caminho, mas ninguém está imune às desavenças e infortúnios que apresentam-se diante de nós. E não podemos mudar isso, apenas lidamos com essa realidade.
 Eu não culpo ninguém, não sinto-me único e especial, não me acomodo, mas também não me iludo.
Mas essas perguntas não saem da minha cabeça.
Por que eu?
Eu, sempre alternando entre tristeza e obstinação, agarrado-me a qualquer resquício de alegria que ousa passar por mim, recusando-me a soltá-lo e esforçando-me para fazê-lo durar mais um pouco.
Eu, tão deformado e sem ter a quem culpar, mesmo querendo aliviar essa dor jogando a responsabilidade em cima de terceiros, não há maneira de fazer isso, só posso suportá-la.
Sei que se contar a alguém o real motivo desse sofrimento, mostrar minha deformidade que infecciona minha vida e impede que eu mantenha um sorriso no rosto por muito tempo, se me apresentar na forma que estou agora enquanto escrevo essas palavras, esse gárgula asqueroso, se me apresentar sem as máscaras que aprendi a usar para disfarçar essa carcaça repulsiva, dirão-me que a vida é assim mesmo, que preciso agarrar-me a algo que me dê forças, que querem que eu fique bem, que procure me lembrar das coisas boas que já aconteceram, ver o lado bom das coisas e que eu esqueça tudo isso, mas eu não posso. Eu não tenho esse poder para arrancar isso da minha vida, acredite, eu já tentei.
As pessoas poderiam dizer muitas coisas, e eu só gostaria de dizer uma.
A culpa não é minha.
Tenho vontade de berrar isso na cara de todos que aproximam-se de mim e automaticamente fazem juízos a meu respeito, e sem perceber me tratam como responsável pelas desgraças em mim. 
Quando me olha, o que você vê é a imagem serena e centrada de alguém que aprendeu a contornar coisas ruins. Em minha cabeça estou gritando.
A culpa não é minha!
A culpa não é minha!
A culpa não é minha!

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Noite passada

O que você fez noite passada?

Pergunta que eu não gostaria de responder em certos momentos.
Visualizei durante todo o dia como nós nos divertiríamos juntos. Coloquei um sorriso no rosto antes e uma música alegre depois de entrar no carro. Segui cantando por todo o caminho tentando imaginar os lugares que poderíamos ir, sempre rindo-me no final, pois sabia que isso não importava nenhum pouco, em qualquer lugar a alegria nos acompanharia e estaríamos bem.
Quando cheguei na sua casa, meu olhos com toda a felicidade do mundo encotraram você, tenho certeza que cintilaram de satisfação. Saímos falando das coisas que fazem nossos dias melhores enquanto a troca de carinho se fazia presente e nos aproximava cada vez mais.
Encontramo-nos com poetas, até planos para o dia seguinte...
De volta à sua casa, te vejo em frente ao espelho pouco antes de arrancar com violência o sorriso do meu rosto. E em poucos minutos cá estou eu voltando para casa novamente, sozinho novamente...
Procuro refúgio com amigos, tento me distrair, tento ordenar meus pensamentos...
Na mesma noite ainda dá-me resquícios de sua compania, que eu procuro aproveitar ao máximo como um cão faminto avança sobre migalhas. E quando todos se vão, somos apenas nós de novo, é chegado o momento de terna felicidade, momento de compartilhar nossos sentimentos, momento de atenção mútua, nosso momento...então força-me a contentar-me em admirar a beleza de sua estátua sem vida.
A acompanho até sua casa. Um beijo. Até amanhã...

O que fiz noite passada?
Tudo o que podia fazer. Sozinho, rastejei de volta para casa, empaquei ao lado do telefone e chorei.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Você não diz

Ouço suas palavras. Dizem que sou um cara legal, uma boa compania, até bonito. Que gosta muito de mim, que mereço ser feliz, que sou especial, ao menos pra você. Você diz que eu devo ter paciência, que um dia vai aparecer na minha vida alguém que me mereça, alguém que goste de mim, alguém que me ame. Diz que não entende como um cara com todas as minhas qualidades ainda não está fazendo a felicidade de alguém, mas que esse alguém irá aparecer.
Porém, não é você.

Você não diz, mas age como se fosse indigna de estar ao lado de um homem como eu. Ignorando meus sentimentos e desejos, não importam quais.

Você não diz, mas…não quer estar comigo.

Pois você quer estar com ele.

Ele…que te faz feliz, a quem você faz feliz.

Que faz seu sorriso iluminar o ambiente e seus olhos cintilarem.

Ele que é ótimo com as palavras e sempre fala o que você quer ouvir. Te completa. Com elogios e declarações que fazem seu coração trepidar.

Ele que é um anjo. Que lhe dá segurança e sonhos preguiçosos.

Ele que é lindo.

Então, você está feliz.

Você está linda, de mãos dadas, passeando numa brisa fresca. Acorda pela manhã e é invadida por pensamentos alegres, esperançosos. Ansiosa para que o tempo passe logo e você possa estar ali sentada ao lado daquele que tanto te adora.

Suas vidas começando….planos para o futuro…sorrisos abertos e sinceros…o peito cheio de vida e amor.

E quanto a mim?

Devo esperar a chegada de alguém que não me diga que outro alguém um dia irá chegar? Reprimir o que sinto agora para dar chance a “pessoa certa”?

Neste momento…e quanto a mim?

— Miguel Gonzales

sábado, 21 de janeiro de 2012

Algumas questões...

Estar totalmente no escuro, sem saber ao certo o que está acontecendo.

Pontos de interrogação surgem a todo instante de vários lados.

É triste constatar que as respostas para todas as questões dentro da sua cabeça estão fora dela. É difícil sabe o que fazer.

A indecisão invade minha mente e faz com que uma única questão torne-se a mais importante, ao menos momentâneamente.

“Onde procurar respostas?”

Meu medo é investir num caminho para sanar essas dúvidas e, irônicamente, constatar que essas respostas estavam comigo o tempo todo. Ás vezes sinto pavor de estar certo. Pois os caminhos que eu imagino nem sempre levam à coisas boas ou à alegria.

Então mergulho minha mente nesses livros e buscas por conhecimento que me iluminem quanto à realidade da vida e ao mesmo tempo retardem um pouco esses momentos de indecisão por, talvez, ter que encarar e viver caminhos indesejados.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Quieto


Ultimamente tenho sido bastante questionado sobre meu silêncio.
Por que ando tão calado e quieto? 
Se sou tímido?
Se estou bravo ou descontente?
Bom, sempre fui da opinião que se aprende muito mais quando se tem a boca fechado, olhos e ouvidos abertos e mente funcionando. Acontecimentos recentes acrescentaram mais motivos para meu pouco exercício vocal.
Sei que muitos acham que sou um pouco insensível, pois não me abalo pelo sentimentalismo barato que está em alta em nosso meio. É só minha opinião, e eu não espero influenciar ninguém, cada um que viva a seu modo, mas certa atitudes são ridículas como, por exemplo, propaganda de piedade mostrando fotos de alguma criança doente, exposição exaustiva de uma tragédia, pessoas que se autoafirmam "As Lutadoras" o tempo todo, que lutam em pró da vida, que lutam em pró dos animais, que lutam em pró do meio ambiente, que lutam pela causa dessa ou daquela "minoria"(que muitas vezes sequer são minorias), mensagens de amor/paz/ajuda/e o que você quiser de seres sobrenaturais que sempre estão com você mesmo que você não os veja, ouça, sinta, apalpe. Penso que seria bacana se tudo não passasse de autoafirmação, propagandas de si mesmo.
Pois é, nada disso me comove. Não posso levar a sério alguém que diz ter pleno respeito pela vida, mas não respeita o limite de velocidade na rua. Não posso levar a sério alguém que diz dar preferência à vida animal ao invés da vida humana, pois se não é capaz de ajudar sua espécie, como ajudará as outras? Isso é falta de humanismo, e na falta deste o egoísmo reina. Tais pessoas estão apenas montando sua imagem para servir de exemplo às outras pessoas e, dessa forma, inflar seu ego. Não posso levar a sério alguém que diz amar a natureza, mas vai na padaria da esquina de carro/moto ou não separa seu lixo. Não posso deixar de ver com certa repugnância alguém que depende de um ser sobrenatural para fazer coisas boas ou andar corretamente.

Por que ando tão calado? Porque estou cansado de tantas contradições o tempo todo. Cansado de ver todo mundo autoafirmando-se exemplos a serem seguidos e criticando duramente os que optam por não viverem de acordo com tais exemplos. E a recíproca é verdadeira. Os que optam por levar outra vida também consideram-se exemplos e querem ser reconhecidos por seus feitos.

Insensível? Com certeza não. Eu apenas tenho a ligeira consciência do meu tamanho e da minha insignificância. Minha vida é importante? Claro que sim, para mim. Diante do Universo, não.
 
Ao que parece a maior parte das pessoas jamais parou para pensar no quão pequenas são. Acreditam que estão numa posição privilegiada em relação a outros seres vivos, sejam plantas, animais e até mesmo seres humanos. Acreditam que suas vidas são o foco de algo muito importante. Porém, a importância da vida humana só é relevante quando se trata de todos nós. Individualmente somos totalmente dispensáveis. Isso quando se trata de plante Terra, pois se levarmos em conta todo o Universo, tudo aqui é insignificante.
E é exatamente quando penso no quão pequeno eu sou que minha sensibilidade aflora.
Pensar que tudo o que eu vivi, coisas boas e ruins, todos os meus problemas, tudo o que eu conheço não passa de átomos de fuligem, me traz uma paz que emociona, me trava a garganta e me faz chorar. Ao mesmo tempo, me deixa feliz por saber que os mesmo átomos que constituem esse grandioso Universo, também constituem esse pequeno ser que escreve essas linhas.
Imagine como fiquei quando vi o video Ponto Pálido Azul de Carl Sagan pela primeira vez. Se alguém não se emociona com esse vídeo, na minha concepção, este alguém sim, é insensível. Pois ele diz respeito a todos nós e como nós deveríamos nos portar melhor uns com os outros.

Por que ando tão calado? Por que muitas coisas hoje parecem-me sem importância, sem necessidade de comentários. Claro que as vezes falar por falar, jogar conversa fora é legal, mas só as vezes. Ao tornar-se constante, torna-se também, banal e sem propósito. Então me perguntam: "Tudo tem que ter um motivo?". Não, mas eu gosto quanto tem. Sim, eu me importo com a causa. E me importo com a verdade.

Se sou tímido? Depende de quanta liberdade você me deu.
Bravo? Descontente? Claro, como poderia ser diferente considerando a nossa situação? Num mundo onde o melhor caminho para todos é a harmonia entre tudo e todos, mas vemos tantas vezes o contrário.
Meu pai me diz que vou acabar louco por pensar tanto nisso.
Talvez.
Mas ainda tenho a felicidade de conhecer. Sejam pessoas a quem eu gostaria de ter sempre por perto e abraçar forte o suficiente para dar a certeza do que sinto, sejam lugares tão lindos e vibrantes que jamais saem dos quadros da minha mente, sejam histórias das quais eu posso duvidar e buscar veracidade, podendo diferenciar a fantasia que enfeita nossas imaginações da realidade que mostram um pouco mais de quem somos nós.

Por que ando tão calado? Estou apenas refletindo sobre o mundo e eu. Apenas analisando algo, talvez Você.