domingo, 27 de junho de 2010

Eu sei.


Acho que nós sempre fomos mais amigos que amantes.

Sinto uma certa estranheza ao lembrar daquela noite. Tudo aconteceu espantosamente da forma mais fácil, cada palavra ou gestos estava milimetricamente no lugar. Tempo ritmado. Sem obstáculos.

Sim, a idéia partiu de mim. Você não estava bem, já não falava comigo, nem sorria e até o riso que eu sempre facilmente lhe arrancava, sumiu.

Corri até sua casa e lhe questionei. Eu precisava começar uma conversa que eu já sabia como terminaria.

Segundo suas próprias palavras, você só estava estranha. Mas para mim não importava o que você falasse naquele momento, eu estava lá por um motivo, eu tinha um objetivo naquela conversa.

Te disse que queria resolver tudo naquela noite. Você me pediu um tempo, e eu não dei.

Eu já conhecia essa história de tempo e tal. Te pressionei a falar. E você falou.

“Daqui pra frente nós somos só amigos.”

Um abraço apertado e eu andando só na rua de novo, com o sentimento de que as coisas estão como devem estar.

Eu sei que nessa noite eu fiz uma coisa boa.

Eu sei o motivo para você estar estranha. Eu sei o que te levou a afastar-se de mim dessa maneira.

E sei, também, o porque você nunca mais tocou no assunto, dando a impressão de que nada aconteceu.

Provavelmente você já esqueceu de tudo, considerando que já passaram-se anos desde aquela noite. Provavelmente você sequer pense a respeito, e não faça a menor idéia de que eu escrevo estas linhas. Não posso imaginar sua reação se um dia as ler.

Há quem diga que devemos compartilhar o que sentimos, nossas emoções, nossos problemas, mas não é bem assim.

Você não precisava passar por tudo aquilo, não precisava aguentar uma cruz que não é sua. Você precisava de tranquilidade.

Uma segurança que eu não lhe podia oferecer. Eu estava com problemas, e já fazia bastante tempo. Eu não podia dizer quando estariam resolvidos, eu não sabia.

Constrangimentos, dor, lágrimas. Eu levantava no meio da noite e você sabia que eu não estava bem. Tudo fora do normal, de maneira ruim e triste. Meus problemas.

Como você se meteu nisso?

Você queria sair, mas não sabia como fazer isso, não sabia como me dizer que você queria voltar pra sua vida, sem surpresas, sem angústia. Não sabia me dizer o quanto você queria sua tranquilidade de volta. Então você se fechou. Na sua introspecção, imaginava meios, palavras, motivos que parecessem razoáveis, não achava, você estava infeliz.

Eu sei.

Você não precisava suportar essa dor, não precisava passar por tudo isso.

Mas eu precisava. Então eu fui até sua casa. Sabendo que isso iria me doer por muito tempo, mas fui. Falei-lhe, e tudo saiu como eu esperava....doeu....só não desabei por ver tanto alívio no seu olhar. Você estava livre. O seu abraço foi leve e descansado.

Fiz o que era certo.

Você não precisava passar por tudo aquilo.

Mas eu precisava. E passei.

Com você fora de cena eu enfrentei tudo aquilo que me afligia. Suportei toda a dor. Todo o sofrimento. E venci.

Sempre houveram motivos obscuros por trás das desculpas que inventamos para o que aconteceu com a gente. Ainda hoje você crê que tudo passou de forma tranquila e o mundo simplesmente girou e colocou as coisas no lugar.

Você não sabe que eu sei, mas eu sei.

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