terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Sexta-feira, 03 de Setembro de 2010

Joguei minha mochila nas costas e me mandei...para o trabalho. Passei o dia com a cabeça entre papéis e expectativas.
Saí de lá e finalmente pus o pé na estrada.
Segui para a rodoviária de Jundiaí e de lá para São Paulo. Coisa rápida, em 45 minutos eu estava pisando pelo Terminal Tietê.



Na fila para comprar a passagem que me levaria a BH minha primeira boa ação. Um cara me disse que precisava de dinheiro para ir embora e porpôs que ele pagasse minha passagem com o cartão dele e eu o reembolsava em grana. Beleza, espero que tenha ajudado.
Depois de algum tempo sentado no chão esperando, o ônibus chegou. Joguei minha mochila no bagageiro e embarquei. Ao meu lado, a compania perfeita para uma viagem noturna, o cara não disse nem boa noite, simplesmente dormiu. Maravilha!
Fone tocando Bob Dylan, me rescostei na corfortabilíssima poltrona, mas logo vi entrar duas mulheres, uma moça de uns 25 anos(muito bonita, por sinal) e uma senhorinha com cara de gente perdida, que depois eu viria a saber ser a mãe da moça. Porém, apenas a senhorinha iria viajar. A moça usando do seu charme, pediu ao rapaz sentado ao lado da mãe dela que ficasse atento nas paradas para que a mãe dela não se perdesse. O cara um tanto quanto "educado" disse que seria um prazer.
Logo pensei "Vai dar merda".
O ônibus partiu e eu adormeci, claro, esses veículos parecem bercinhos.
Na primeira parada (só Deus sabe o nome da cidade) aproveitei pra tomar um café e dar uma esticada nos músculos(carcaça!). Quando voltei ao meu assento 'Cadê a senhorinha?'. Saiu. 'E o cara simpático e prestativo?'. Dormindo.
Que beleza!
Saí depressa para avisar o motorista antes que o busão partisse. Encontrei a senhorinha voltando, sozinha, com um prato de comida nas mãos. Ajudei a se acomodar de volta na poltrona para fazer sua refeição, que eu achei um tanto quanto pesada para aquela hora(2 da madruga). Resolvi pagar mais uma prestação da minha passagem para o céu e entre um cochilo e outro eu ficava de olho na tal senhorinha, até o fim da viagem.

Seis e meia da matina, a senhorinha segura com seus familiares que a aguardavam, eu saio da rodoviária e BH está um caos. Trânsito infernal.
Liguei para a Clarisse, uma amiga que reside em Betim(logo ali), e depois de aguardar na calçada por um tempo seguimos para a casa dela. No caminho, colocamos o papo em dia como de costume(monólogo dela).
Larguei a mochila na casa da Clarisse, tomei um chafé e fomos andar pela capital de Minas Gerais.
No centro de BH, mais um indivíduo juntou-se a nós. Bryan, o namorado da Clarisse. Seguimos para um parque que achei muito legal.
Parque das Mangabeiras

Parque das Mangabeiras, um espaço verde, calmo, coisa para fazer num domingo. Não demoramos para perceber que o lugar estava enfestado de quatis muito simpáticos que, iludidos da vida, pensavam que tínhamos comida para eles, tadinhos.
Num córrego nos deparamos com um coroa muito louca que se debatia na água, feliz da vida. Eu não podia ficar de fora, subimos pela margem até um lugar mais vazio e lá estava eu dentro d'água. Algo que eu adoro é estar na água.
Depois de um dia todo circulando por BH eu estava exausto. Curti muito o rolê e isso me tirou as energias(que convenhamos, não são muitas). Na casa da Clarisse capotei num sono profundo, no outro dia eu estaria num trem rumo a Vitória-ES.

Acordei cedo, joguei a mochila nas costas de novo e fui pra estação de trem, a Clarisse me acompanhou. O plano era embarcar rumo a Vitória-ES, chegaria lá só a noite. Um dia inteiro dentro de um trem. Porém, um imprevisto, não havia mais passagens para aquele dia. Fazer o que?
Voltar?
Jamais.
Da ferrovia para a rodoviária de BH.
Uma passagem para Guarapari, por favor.



Durante as quase dez horas que passei dentro do ônibus pude ver o quão belo é o interior de Minas Gerais, o quão calor faz por lá e o quão estúpido é o ser humano, pelo caminho avistei muitas queimadas, muitos animais maltratados. Fiquei surpreso quando me dei conta que estava no estado com a maior malha rodoviária do país, campeão em acidentes nas estradas e vi apenas um acidente durante todo o percurso. Fiquei feliz com essa.
Foi uma viagem tranquila, dormi um pouco, contemplei muito e pensei muito sobre minha própria vida. Essa é uma das vantagens de viajar sozinho, pensar em si mesmo e ser você mesmo.

Alguns fatos me chamaram a atenção durante o trajeto BH – Guarapari, o primeiro foi depois de uma parada para almoçar, quando já estávamos rodando de novo, um frentista saiu de um posto de gasolina gritando para o nosso motorista pedindo que ele parasse o ônibus. O motorista encostou e foi ver o que havia acontecido. Ficamos uns dez minutos parados quando veio a resposta para aquele alvoroço. Um passageiro ficou para traz na última parada e estava dentro de um carro vindo ao nosso encontro, um passageiro cego viajando sozinho que ninguém notou a ausência. Mancada!
Outro fato foi uma placa. Estávamos numa região um tanto desértica, muito espaço e pouca gente. Raramente se via uma casa. A placa era de uma pizzaria e dizia ter 'A melhor pizza da região'.

Depois de um pôr-do-Sol maravilhoso, admirado em movimento pela estrada, me dei conta que estava em Vitória. Adorei passar por aquela ponte e ver um barco ao longe, no canal.
Em Guarapari, já noite, cansado, tratei de ir direto para um hotel. Encontrei um barato que mais tarde soube ser especializado em receber trabalhadores de empresas contratadas para prestar serviços para a cidade. Bem que eu havia estranhado ficar num quarto com cinco camas. Mas estava ótimo. Banho quente e cama.

As seis da manhã eu estava em pé. Tomei café e saí para conhecer a região.
Andei, andei, andei.

O tempo nublado só fez com que eu me animasse ainda mais. Cheguei a um canal, fotografei a grande estátua na ilhazinha no centro e segui para a praia. Caminhei sobre as pedras a beira-mar, depois pela areia, resolvi conhecer a praia toda.
Cheguei a uma área de mata preservada, com trilhas e tal, caminhei por uma delas e, uns dez minutos depois, cheguei a uma praia pequena e maravilhosa. O povo lá não deve gostar muito de andar no meio do mato, pois a praia estava quase deserta. Me joguei, claro!

Passei o dia por lá, caminhando, fotografando e sentindo todo o lugar.
A fome bateu e voltei para a civilização e convívio social.
Deixei o hotel lá pelas 18h e, temendo que o feriado prolongado dificultasse minha volta, fui para o posto rodoviário de Guarapari. Comprei uma passagem para São Paulo e, enquanto aguardava, notei que duas mochileiras tentavam nervosamente conseguir informações num guichê. Pensei “Talvez eu possa ajudar, manjo um pouquinho de inglês e espanhol, até LIBRAS eu já estudei, vou lá.”, constatei que as duas, como boas alemãs, só falavam alemão, não entendi nada e não pude ajudar. Voltei pro meu lugar.
Já no ônibus, uma cena bacana: Olhando a paisagem pela janela, sentado na última poltrona, fones nos ouvidos, vejo nuvens carregadas se aproximando. No instante exato em as primeiras gotas de chuva apareceram no vidro, nos meu ouvidos tem início a música Unchained Melody, trilha sonora do filme “Ghost, do outro lado da vida”.
Pensamento: Que romântico, minha vida é um filme!

Sorrisão na cara e uma viagem tranquila, de volta pra casa.


Vitória-ES

Um comentário:

  1. Fantástico.
    O que você escreve é de uma leveza inefável.
    Ultimamente ando procurando pessoas leves e é tão difícil de achá-las...agradeço por ter aparecido tão fácilmente.

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