domingo, 27 de março de 2011

Essas mudanças.

Há tempos que anseio por mudanças na minha vida. Agora que elas estão acontecendo, estou me questionando ainda mais sobre o que fazer comigo mesmo. Que rumos tomar, o que fazer, para onde ir, se devo realmente ir, se devo realmente fazer.
A única coisa que tenho de certo é não voltar. Não andar para trás. As mudanças que pedi e corri atrás para que acontecessem começaram. E quero mais.
Mais caminhos para trilhar.

A idéia de sair dessa casa definitivamente voltou a habitar minha mente. Apesar de morar só com meu pai e meu irmão menor e ter total privacidade e liberdade para fazer o que quero, sei que não será a mesma coisa. Quero sentir que sou o único cuidando dos meus interesses e de mim mesmo. E o Sr. Paulo não vai permitir isso enquanto eu estiver junto dele, já que ele foi o único a cuidar de mim durante esses quase 24 anos, não vai perder esse hábito facilmente.

No campo profissional estou feliz. Apesar de adiar minha viagem pelo litoral nordeste do Brasil, sair da área financeira foi ótimo. Quero envelhecer, mas não antes do tempo. Não quero parecer velho e não ter histórias suficientes para contar. Apesar de uma amiga ter me comparado ao Forrest Gump. Quando eu realmente estiver velho, e isso vai acontecer, terei tanto o que contar que alguém terá que ajudar minhas velhas mãos cansadas a registrar tudo.
De volta à área de educação me sinto até mais leve. Não que eu ache que será fácil. É pelo simples motivo de que me sinto mais útil. Tenho gana de pensar em soluções para os problemas. Ir atrás do que quero e preciso. Sinto-me feliz em dizer “Sou professor”. Apesar de todos os problemas dessa área que todos já sabem.

Estou conhecendo uma galera nova. Pessoas que, pelo que vejo até agora, querem melhorar o que vêem em volta e não vão deixar suas vidas passarem em vão. Estou lendo muito sobre as propostas deles, sobre o que pretendem e estou gostando muito. A política está atrativa de novo. Estou a cada dia mais afim de me engajar com pessoas assim e esse tipo de movimento. Essas experiências em grupo são muito válidas. Principalmente para mim, que não sei quase nada nesse campo, já que a maior parte de tudo o que faço são atividades solitárias.

Até minha fila de livros para as próximas leituras mudou um pouco. Troco qualquer clássico por um poeta beat. Dos seis próximos livros, cinco são da geração beat. Estou fascinado em ler o jeito como Jack Kerouac escrevia.
Vejo na filosofia algo para minha evolução pessoal. Considero até a possibilidade de fazer uma outra faculdade, só pelo prazer de fazer. Divido meu tempo em ler, observar e, quando consigo, aplicar esses conhecimento lá fora. Ando saindo mais de casa também. Saindo sozinho para observar, saindo com amigos, que é outra coisa que parei para analisar. Tenho em minha cabeça claramente quem são meus amigos e aqueles que são apenas conhecidos e, por algum motivo, mantém suas vidas longe de mim. Amigos como o Marcos, ele é realmente um bom amigo, parceiro mesmo, de longa data. Não que para ser amigo precise me conhecer a mais de uma década. Só é necessário agir como tal e sentir isso. Agora, conhecidos são como...deixa pra lá, eles não lêem o que escrevo mesmo.

Como disse antes, tenho me questionado mais. Paro um pouco de perguntar o que há de errado com o mundo para perguntar o que há de errado comigo. O que eu tenho? O que falta em mim para que eu possa chegar onde quero?
Me questiono muito para tentar construir algo que realmente me faça chegar a momentos cada vez mais felizes. Para tentar conseguir essas respostas vou tentar cada vez mais viajar. Sair de casa, ir para a estrada, passar dias em ares totalmente estranhos e pensar em quem eu realmente sou.
Vou continuar correndo atrás das minhas mudanças, atrás daquilo que quero, atrás da minha vida. Sou jovem, tenho sede e quero vida. Depois de tanta pancada nessa minha trajetória, acho que mereço essa folguinha. Mas isso é outra história.

quinta-feira, 24 de março de 2011

17 segundos

O Sol acaba de ir embora. Em pé, em frente ao espelho, ele arruma o cabelo. Enquanto uma banda antiga toca no rádio ele pensa no melhor penteado para sair de casa.
Um par de botas gastas, jeans surrado, camiseta preta envelhecida, pente na mão.
Reflexão diante do espelho. Dezesseis anos e a música termina.
Começa outra.
Não consegue se decidir. Faz, defaz, muda, retorna ao início...
Olha fixamente para seus olhos no espelho considera a possibilidade de raspar a cabeça mais uma vez. Imagina por alguns segundos como ficaria agora que está mais crescido.
Indecisão.
Pronto para mais uma tentativa, leva o pente mais uma vez para o alto, mas pára no meio do caminho.
Não consegue acreditar.
Estático, arregala os olhos e procura o chão debaixo dos seus pés.
Seu coração acelera e a respiração fica mais difícil. Mas ele nem pensa em respirar.
Paralisado. As lágrimas começam a descer por seu rosto e molha sua camiseta tornando-a ainda mais escura.
Não pode acreditar.

O rádio. A música.
De repente nada mais importa.
O som vai diminuindo lentamente até o silêncio total.
A música termina.
Não consegue conceber a existência de tanta beleza.
Tremendo ele vai até o rádio. Acaba de entender o que está acontecendo.

Ouviu aquela música muitas vezes mais.
Nunca mais se preocupou com o cabelo.

quarta-feira, 23 de março de 2011

segunda-feira, 21 de março de 2011

Torpor

De olhos abertos, num fascínio alucinado, salto fechando os olhos para alucinações fascinantes.

Lua Vermelha

Mostra-me agora
Quem te faz chorar
Quem te machuca
E quanto tempo faz

Pois agora me preocupo
Com as pessoas ao redor
Com lágrimas ou sem elas
Ouço agora sua voz

E me ponho a chorar
Nesse silencio embriagador
E viajo pelo céu
De espaço, caçador.

E não faz muito tempo
Que o Sol se assemelha
Aos olhos de um mundo
Nossa Lua Vermelha

E derrama nossas lágrimas
No meio do céu, estrelas.
Reinando na noite
Essa Lua Vermelha


Miguel Gonzales

domingo, 20 de março de 2011

Vida em Movimento

"Não confie num pensamento que vem quando você está sentado."
Essa frase passou a fazer muito sentido para mim. Encontrei ela no livro Vitaminas Filosóficas - A arte de bem viver do filósofo e músico alemão Theo Roos, na parte que ele fala sobre Nietzsche. Pensando sobre ela, comecei a perceber alguns comportamentos das pessoas ao meu redor e meus também.
Percebi o quanto torcemos para que o fim de semana chegue logo e, quando chega, não fazemos nada. Ansiamos por aquele feriado que vai cair na segunda-feira e teremos três dias seguidos de folga e, quando ele chega, ficamos em casa grudados no sofá, muitas vezes reclamando de não ter nada para fazer. E o pior, aguardamos durante um ano inteiro a chegada de nossas férias e, quando a tão sonhada chega, dormimos muito, comemos muito, vemos muita TV(no meu caso não, pois não perco meu tempo com TV), nos arrastamos pela casa durante vinte ou trinta dias, quando voltamos ao trabalho dizemos a todos que usamos as férias só para descansar.

Descansar? Para quê?
Para voltar ao trabalho revigorado e ser mais produtivo. Descansado para dar o máximo no emprego por mais um ano e ansiar pelas próximas férias nas quais você, mais uma vez, apenas se arrastará pela casa para começar tudo de novo.

Isso me lembra uma frase que ouvi de um tio certa vez: Você trabalha para viver ou vive para trabalhar?
Por que dedicar-se tanto às atividades que, em tese, apenas serviriam para garantir-lhe o sustento, a moradia, o lazer, enfim, a sobrevivência?
Na prática trabalhamos para nos manter trabalhando.
Nos alimentamos para continuar com energia para trabalhar.
Dormimos para ir trabalhar de manhã.
Estudamos, adquirimos conhecimentos para melhorar no trabalho.

Estamos fazendo o caminho inverso.

Percebi isso em mim. Nas minhas últimas férias fiquei vinte dias em casa. Eu lembro e vejo que realmente me arrastei os vinte dias pela casa. Lia um pouco, estudava um pouco, navegava na internet um pouco, comia um pouco, dormia e me entediava muito.
Quando voltei ao trabalho e alguém me perguntou o que eu fiz no meu tempo de férias. Respondi: NADA!

Isso me deprimiu. Fiquei muito triste mesmo ao perceber que tive tempo para fazer muitas coisas bacanas e não fiz.
Me perguntei muitas vezes "Por que não fiz?"
A única resposta que me vinha à cabeça era por que eu não quis, me acomodei, vegetei por vinte dias, reclamei do tédio pela simples razão de não ter sequer a iniciativa de dar um pulo lá fora pra ver como estava o tempo. E, se eu estava deprimido nessa hora, a culpa foi toda minha.

"NÃO CONFIE NUM PENSAMENTO QUE VEM QUANDO VOCÊ ESTÁ SENTADO."

Eu, que sempre me revoltei com o conformismo, agindo dessa forma.
Me revoltei mais uma vez. Agora comigo mesmo.
Vinte e três anos e estou perdendo minha vida. Estou vendo-a passar sentado nessa poltrona de velcro. Reclamando do tédio e da vida enquanto ela passa lá fora.
Perdendo tempo, perdendo a vida.
Prometi que jamais faria isso de novo.
Passado pouco mais de um mês, chega um feriado, numa terça-feira, o que signifiva quatro dias seguidos de folga.
Não pensei duas vezes.
Joguei uma mochila nas costas e durante quatro dias eu andei por quatro estados.
Foi uma experiência maravilhosa.
Nesses quatro dias vi mais coisas do que no vinte dias de férias anteriores.
E um detalhe importante, eu tenho algo para contar. Pois, como já disse Nelson Gonçalves, a vida só vale a pena se tiver algo para contar aos seus netos.

Então, não adianta ficar sentado, vendo o relógio dar voltas, enquanto a vida passa e sua morte se aproxima.
Faça algo.
Não precisa ser como eu e sair por aí com ma mochila nas costas a cada fim de semana possível. Se quiser, ótimo, eu recomendo. Mas pode ser qualquer outra coisa.
Aprenda a tocar um instrumento e faça músicas. Vá dançar. Sinta o frio das águas do mar ou de um rio. Se enfie no meio do mato e acampe por lá. Reúna a galera. Pratique algum esporte, não para manter um visual, mas um esporte que te dê alegria, que seja prazeroso. Curta uma vida em movimento.
Sinta o cheiro da rua. Vá simplesmente dar uma volta, ande pelas ruas e conheça sua cidade. Conheça lugares. Vá aonde você nunca foi. Experimente. E, para que tudo isso seja possível, o mais importante...
SAIA DE CASA

quinta-feira, 17 de março de 2011

Músicas de Protesto

Hoje meu gosto musical foi questionado.

Estava eu tranquilo, sentado num banco com meus fones de ouvido, num daqueles momentos felizes em que somente presto atenção à música e canto sem emitir som algum. Uma mão me toca o ombro, era uma colega, conhecida a pouco tempo, disse que me chamou algumas vezes, mas só obteve minha atenção pelo tato.
Realmente, nesse momentos, eu não ligo mais pra nada.
Ela me perguntou o que eu estava ouvindo que me levava tão longe.
Mostrei a ela. Professor Dylan em seus primódios.
Começamos a conversar sobre música e, ao ouvir que eu gostava muito de músicas com contexto social, minha colega expressa uma opinião que achei muito estranha.

Como eu poderia gostar desse tipo de música? Elas não fazem diferença, não mudam nada, não resolvem os problemas da sociedade. É perda de tempo dar importância à essas músicas. Seria melhor se eu escutasse músicas que retraram sentimentos como amor e que fale a beleza do mundo.

Achei estranho alguém conceber a idéia de que eu creio que músicas irão resolver os problemas de alguém.
Nenhuma música poderia resolver os problemas de uma pessoa, quanto mais da nossa sociedade. Porém, não é esse o objetivo das músicas de protesto.
Músicas desse tipo nos fazem pensar. Nos fazem refletir sobre a realidade. Afinal, esse é o ponto de partida para qualquer mudança, principalmente para solucionar problemas.

Pensar.

É isso que as músicas de protesto fazem.

A longo prazo, essas músicas espalham e imortalizam idéias. Os músicos morrem e nós continuamos a cantar suas canções. O tempo passa e essas músicas permanecem. Carregadas de pensamentos, carregadas desejos e mudanças.
Músicas que protestam contra uma realidade injusta, soa por muito tempo nos ouvidos daqueles que beneficiam-se com essa situação. Não só pela própria canção, mas por todos que a ouviram, pensaram e dispuseram-se a mexer-se a favor de um ideal.
Essas músicas são uma pedra no sapatos do figurões. São os calos apertados dos 'poderosos'.
Sem a divulgação e propagação de pensamentos promovidas por músicas de protesto, os beneficiados pela desigualdade entre as pessoas estariam muito mais próximos do total controle sobre os outros. A luta pela liberdade e pela igualdade não seria a mesma. A música une pessoas num mesmo objetivo, sem ela cada um estaria só, isolado.

A música nos faz pensar, nos faz buscar o que desejamos, imortaliza idéias, nos faz lutar e nos une.

Cada canção vence uma batalha na guerra pela igualdade e liberdade.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Domingo


Muitos considerariam esse dia bonito e feliz.
É aquele dia que vem à mente das pessoas quando idealizam um típico dia de verão.
Enquanto o Sol brilha lá fora, esse homem deixa-se cair sobre as almofadas do sofá.
Olha para o teto procurando formas de rostos nas imperfeições da laje pitada de branco.
Pensa em dormir um pouco, mas seus olhos teimam e manter-se abertos. O sono o abandonara há várias horas.
A TV ligada apresenta interferências, mas ele não se importa, não está prestando atenção.
Suas contas estão pagas.
Ele sabe, há muito o que fazer. Imagina a grande variedade de coisas que poderia fazer se saísse de casa agora. Mas não sai.
Não se mexe.
Um poço de tranquilidade.
Nada o anima.
Mais um dia perdido entre essas almofadas.
O suor desce devagar em sua testa.
O tempo passa devagar.
O mundo está mais lento hoje.
Parece que respira só o suficiente para manter o sangue circulando.
Calmo.
Abraça o ócio e espera. Espera por nada.
Não é mais um homem, é um objeto que decora a sala.
Não vive, vegeta.

terça-feira, 8 de março de 2011

Àquela de tantos abandonos



Querida amiga,
Sinceramente, não acredito que você seja a causa da minha tristeza, mas não tenho dúvida que você é a mais assídua colaboradora da minha sorte.
Na solidão deste quarto posso ainda embalar-me em bons pensamentos e esquecer, por instantes, essa dor que você já conhece, com uma porção de imagens ilusórias.
Quando estamos juntos e, em meu peito, você chora suas angústias, lamenta o amor e relembra suas alegrias passadas, a tristeza corrói meu ser de tal maneira que é difícil perceber o chão sob meus pés.
Saber que suas boas lembranças são de um tempo em que você esteve distante, enquanto eu, neste mesmo quarto, dirigia meus pensamentos na sua direção.
Saber que a sua alegria significa o meu abandono, seu sorriso minhas lágrimas, suas lágrimas minhas angústia.
Saber que nessas linhas te suplico para me tomar nos braços com um pouco de ilusão e fugir dessa realidade amarga que nos envolve, e você jamais colocará seus olhos nessas palavras.
Amigos para sempre, pois para sempre te amarei. E, para sempre, esconderei dos teus sentidos o quão infeliz você me faz.

Miguel Gonzales

Amor de mãe

Ouço muito falar nesse tal amor de mãe.
Um amor insubstituível.
Amor maior.
É comum ver presidiários com a frase “Amor só de mãe” tatuada em seus corpos.
Algo divino, acima de todos os outros sentimentos.
Mas, minha mãe jamais me amou assim.
Ela me rejeitou a vida toda e, ainda hoje, me trata diferentemente dos filhos de seu segundo casamento.
Por muito tempo pensei ter sido privado desse amor.
Mas amor de mãe nem sempre vem das mães.
Vem de pais, avós, irmãos, tios, padrinhos, de desconhecidos distantes que se esforçam pra te dar uma ajudinha na vida.
Pra mim esse amor vem do meu pai, a melhor mãe que eu poderia ter.

Eu fico

Eu não vou sair daqui
Firmo meus pés nesse chão
que é meu por direito
Eu não vou sair daqui

Você está em dívida?
Você é culpado?
Se for, faça-lhes a vontade
e continue se movendo

Mas eu não vou sair daqui
Minha culpa é ser livre
Não vou recuar
Não vou fugir

Se eu andar, será pra frente
Em frente pra enfrentar
quem, à força, quer calar
a voz, a poesia, a mente

Tenho meus pés calcados
nessa terra dura
Onde maldade e censura
atacam por todos os lados

E nessa hora em que me mandam sair
Minha cara está aqui para bater
Finco minhas raízes para dizer
Que não vou sair daqui.

Miguel Gonzales

Você não diz

Ouço suas palavras. Dizem que sou um cara legal, uma boa compania, até bonito. Que gosta muito de mim, que mereço ser feliz, que sou especial, ao menos pra você. Você diz que eu devo ter paciência, que um dia vai aparecer na minha vida alguém que me mereça, alguém que goste de mim, alguém que me ame. Diz que não entende como um cara com todas as minhas qualidades ainda não está fazendo a felicidade de alguém, mas que esse alguém irá aparecer.
Porém, não é você.
Você não diz, mas age como se fosse indigna de estar ao lado de um homem como eu. Ignorando meus sentimentos e desejos, não importam quais.
Você não diz, mas...não quer estar comigo.
Pois você quer estar com ele.
Ele...que te faz feliz, a quem você faz feliz.
Que faz seu sorriso iluminar o ambiente e seus olhos cintilarem.
Ele que é ótimo com as palavras e sempre fala o que você quer ouvir. Te completa. Com elogios e declarações que fazem seu coração trepidar.
Ele que é um anjo. Que lhe dá segurança e sonhos preguiçosos.
Ele que é lindo.
Então, você está feliz.
Você está linda, de mãos dadas, passeando numa brisa fresca. Acorda pela manhã e é invadida por pensamentos alegres, esperançosos. Ansiosa para que o tempo passe logo e você possa estar ali sentada ao lado daquele que tanto te adora.
Suas vidas começando....planos para o futuro...sorrisos abertos e sinceros...o peito cheio de vida e amor.

E quanto a mim?
Devo esperar a chegada de alguém que não me diga que outro alguém um dia irá chegar? Reprimir o que sinto agora para dar chance a "pessoa certa"?
Neste momento...e quanto a mim?

Miguel Gonzales

domingo, 6 de março de 2011

A Fênix


A fênix é um enorme pássaro da mitologia grega que quando morria entrava em autocombustão e passado algum tempo renascia das próprias cinzas.
A origem vem dos desertos da Líbia e da Etiópia. Seu nome prove do grego “phoinix” que significa “vermelho”. A Fênix foi considerado por gregos e egípcios como um semideus, e segunda a lenda, este ser se consome em suas próprias chamas a cada 500 anos, para mais tarde renascer de suas próprias cinzas como um fênix jovem e novo.



Acusações

"Apenas três anos de idade
E não podia parar de chorar
Por isso, o pai passou noites em claro
E o acusaram de dar trabalho

Enfermidade tomando seu corpo.
O conselho: deixe-o ir
Para aliviar o sofrimento (de alguém)
Talvez ele devesse mesmo dormir

Mas o acusaram de dar trabalho
Mas o acusaram de dar trabalho




Correu metade da cidade
Chegou, mas era tarde.
O corpo desceu, as lágrimas não.
E o acusaram de insensível

Doze anos e a vontade de chegar
Para dizer um último adeus
-Perdão, não corri rápido o bastante.
-Meu querido irmão, eu não consegui.

Mas o acusaram de insensível
Insensível, insensível, insensível.




Sentado à espera do professor
Alerta-o sobre a situação
Um impacto em seu corpo, passos para fora
E o acusaram de violência

Sua saúde, a vergonha, a humilhação.
Não podia permanecer ali
Não foi ouvido, ignorado, proibido.
Trancado, à força libertou-se.

E o acusaram de violência.
“Isto é violência!”. Isto é violência?


Dezessete anos e um amor próprio.
Sua escolha: mudar o rumo da vida
Arrancar de si o incômodo de longos anos
E o acusaram de egoísmo.

Cotidiano de lágrimas incessantes
Sofrimento escondido, sentado no chão do banheiro.
Calado, nervoso, estremecia e lamentava.
Sozinho para não afetar quem amava

E o acusaram de egoísmo.
Não, por favor, egoísmo não.



Mais um Outono e o telefone toca.
Distante, uma mãe quer lhe falar.
Jamais retornou.
E o acusaram de ser um mau filho

Ela já se fora há tanto tempo
Para uma nova família, uma nova vida.
Ele é um passado remoto.
Não foi a escolha dela

E o acusaram de ser mau filho
Um mau filho, o filho mau.






Uma sombra correndo pela noite
Questionamentos e lágrimas
Separação inevitável e dolorosa
E o acusaram de não amá-la

Diálogo já não havia
Sem sorrisos, nem mesmo um olhar.
Noites e noites dedicando-se
A pensar numa maneira de conseguir uma palavra

Mas o acusaram de não amá-la
-Como eu poderia não amá-la?

-Que tipo de monstro sou eu?"

Miguel Gonzales